A cada ano aumenta o interesse pelos sistemas integrados, sobretudo aqueles que integram lavoura, pecuária e floresta. No último dia 26, mais de 300 pessoas estiveram presentes no Dia de Campo ILPF, durante a AgroBrasília 2023, para conhecer os mais recentes resultados de pesquisas desenvolvidas pela Embrapa e instituições parceiras e o que alguns produtores rurais já estão aplicando em suas propriedades.
Hoje há no Brasil 17 milhões de hectares dentro das variações de integração, sendo a maior parte com lavoura pecuária. No entanto, a integração com o componente florestal vem crescendo no Brasil, segundo o pesquisador da Embrapa Cerrados e coordenador técnico do evento, Kleberson de Souza. A meta, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é ampliar a adoção desses sistemas em 10 milhões de hectares até 2030. “Acreditamos que esse é um caminho sem volta. Todos os produtores de grãos vão se transformar em pecuaristas e os pecuaristas vão se transformar também em produtores de grãos. O sistema integrado veio para atender uma demanda da sociedade, de ter produtos produzidos no campo com mais sustentabilidade”, afirma o pesquisador.
Produtores rurais, técnicos da extensão rural, estudantes e pesquisadores discutiram caminhos para o aumento da produtividade no campo de forma sustentável. Entre eles, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) se destaca, uma vez que permite melhor aproveitamento dos recursos naturais e dos materiais usados na produção agropecuária, além de reduzir o impacto ambiental e aumentar a produtividade das propriedades. Segundo o pesquisador Abílio Pacheco, da Embrapa Floresta, a Empresa tem investido muito nesse sistema de produção, gerando cada vez mais informações para um sistema considerado altamente sustentável.
Outros benefícios desses sistemas são a diversificação na propriedade, o balanço de carbono favorável e a eficiência de tudo o que é utilizado dentro da propriedade agrícola. “Hoje o produtor consegue economizar 1/3 do fertilizante aplicado nas lavouras. Além da questão econômica, há a sustentabilidade ligada à essa economia. Uma vez que usamos menos ureia, fósforo, potássio, emitimos menos gases de efeito estufa na fabricação e no transporte desses fertilizantes. É uma reação em cadeia com benefícios para o produtor e para a sociedade”, ressalta Souza.
Temas em discussão
Balanço de carbono e seus impactos no sistema produtivo, vantagens e desafios da integração lavoura-pecuária em sistemas intensivos de produção, benefícios da ILPF com o componente florestal e o plano ABC+, coordenado pelo Mapa, e as perspectivas de novos mercados com esse plano foram os temas das estações por onde os visitantes circularam.
O engenheiro agrônomo e também produtor rural Willian Matté, que mantém propriedades no PAD-DF, apresentou soluções que utiliza em suas propriedades no PAD-DF: ILP, agricultura regenerativa, produção de carne de qualidade, utilização de mix de cultivos, ciclagem de carbono, irrigação, mix de girassol com outras culturas.
Para Matté, o principal desafio da integração é o equilíbrio entre questões técnicas e financeiras/comerciais: “Nós somos um negócio, temos que nos manter lucrativos”. No entanto, ele ressalta que os benefícios da tecnologia são inúmeros: “Aumento de produtividade, ciclagem de carbono, aumento de matéria orgânica e de vida no solo, bem-estar dos animais, qualidade da carne, aumento de absorção e armazenamento de água são alguns resultados que estamos alcançando em nossas propriedades”, elenca.
O engenheiro agrônomo resume seu negócio em visão a longo prazo e diversificação das atividades e afirma que essa é um ponto muito importante para as propriedades, pois garante maior biodiversidade para o sistema produtivo, além de ter impacto mercadológico: “Assim podemos participar de mercados diferentes e isso traz uma estabilidade para o negócio”.
O pesquisador Abílio Pacheco enfatiza a importância do componente florestal nos sistemas. Ele destaca sobretudo a valorização do produto e a vantagem de o produtor rural ter uma renda extra: “Há dois anos, nós vendíamos a madeira por R$ 32. Hoje estamos vendendo a R$ 155. A floresta em pé representa uma renda livre para o produtor, um dinheiro extra, uma poupança que ele pode ter”, destaca.
O pesquisador e também produtor rural compara o sistema integrado a um edifício de dois andares: “Embaixo temos os bois na pastagem e no andar de cima, temos as árvores, gerando renda sem que precisemos cuidar delas todos os dias”.
Dentro de uma estratégia para tornar a produção agropecuária mais sustentável, a ILPF é uma das tecnologias que integra o Programa ABC+, Programa para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária, coordenado pelo Mapa. “Esse programa é reconhecido internacionalmente como um dos principais no mundo no que se refere à agricultura com baixa emissão de carbono. Um dos principais fortalecedores da tecnologia é o que temos aqui hoje: mostrar para os produtores rurais que é possível produzir com sustentabilidade, sequestrando carbono”, explica o diretor-substituto do Departamento de Produção Sustentável do ministério.
Segundo o diretor, o principal ganho desse programa em relação aos outros é que, além da sustentabilidade, o produtor pode ainda ter uma rentabilidade maior. “Preservar e assegurar mais estabilidade ao produtor, com maior qualidade na produção – esse é um diferencial do programa”.
Os pesquisadores Roberto Guimarães e Kleberson de Souza destacam que temos um cenário com uma alta porcentagem de pastagens degradadas no País, o que também se apresenta como uma grande oportunidade de verticalização da produção nessas áreas, para as quais a ILPF é bastante recomendada.
Outro ponto de destaque da tecnologia é a sua capacidade de estoque de carbono no solo. Uma área com lavoura-pecuária-floresta com plantio direto sequestra sete vezes mais carbono quando comparado com um pasto com baixa produtividade, segundo pesquisa realizada pela Embrapa Cerrados. “Esse dado se refere apenas ao carbono no solo, sem contabilizar as emissões dos animais, que também é menor nos sistemas integrados. O ganho é exponencial quando calculamos o balanço carbono, pois neleles emitimos menos e compensamos mais, considerando o que é estocado no solo”, afirma o pesqusiador Roberto Guimarães. Para Gustavo Goretti, do Mapa, Brasil tem condições de ser referência mundial no mercado de carbono, a partir da adoção de tecnologias e práticas recomendadas pela pesquisa científica.
Outras contribuições
O presidente da Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, lembra que já existem pequenas propriedades que adotam a ILPF desde 2016. “Todo mundo sabe que para grandes propriedades já existem bons modelos no Brasil, mas precisamos propagar isso nas propriedades leiteiras, porque temos algo em torno de 60% das pastagens do Brasil em algum estágio de degradação e a ILPF é uma grande alternativa para melhorarmos essas pastagens, conseguindo maior produtividade. Aumentando a produtividade, nós vamos ter, com certeza, mais competitividade em uma cadeia extremamente complexa”. Ele ressalta que, apesar de o Brasil ser o terceiro maior produtor de leite do mundo, o País ainda tem dificuldades no que se refere às exportações, diferente dos países vizinhos, que têm bom desempenho no mercado externo. Borges completa: “O Dia de Campo ILPF é muito importante, é uma ferramenta que traz incentivo aos produtores, técnicos e alunos que estão aqui, que vão propagar essa ideia. Um evento como esse deveria ser replicado em outras feiras como essa pelo Brasil afora”.
Já a Emater-DF, representada no evento pelo coordenador Maximiliano Cardoso, incluiu, no circuito de bovinocultura, o consórcio de milho-verde com recuperação de pastagens com as cultivares da Embrapa de Brachiaria ruziziensis, a BRS Integra, e de Brachiaria brizantha, a BRS Paiaguás. “A extensão rural é extremamente importante na cadeia produtiva, porque ela é o ponto de sensibilização do produtor no campo, quando conseguimos levar uma tecnologia enquanto conversamos com ele na varanda de sua casa. É nesse ponto em que conseguimos virar a chave para ele começar a adotar a tecnologia em alguns pequenos módulos com produção de ILP ou ILPF, para que o projeto possa se estender”, garante.
JULIANA MIURA <cerrados.imprensa@embrapa.br>
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