Talita foi encontrada em Porto Alegre (RS) com graves lesões que a impediam de andar; depois de adotada foi tratada e vive um final feliz
TALITA, A CABRA DA PET
As histórias de abandono de animais são muitas. Os relatos e pedidos de ajuda permeiam a internet, a maioria delas envolvendo cães e gatos. Mas, o fato é que os maus tratos não se restringem a uma ou outra espécie, pelo contrário, são mais comuns do que imaginamos. Uma dessas histórias, por exemplo, é a da cabra Talita, abandonada na Ilha dos Marinheiros, na região do arquipélago, em Porto Alegre (RS), com lesões tão graves que a impediam de andar.
O resgate
Em dezembro de 2020, um morador do local pediu ajuda a uma ONG para efetuar o resgate da cabra, mas como a organização era voltada apenas para cães e gatos, não teve condições de atender o chamado. No entanto, na intenção de minimizar o sofrimento do animal, ofereceu um médico veterinário para realizar a eutanásia, uma vez que o estado era bastante crítico. Mas, o que rumava para um triste final de vida, teve sua primeira reviravolta: um grupo de voluntários conseguiu removê-la do local e a internou em um pet shop. Foi lá onde ela recebeu os primeiros cuidados e suplementos, mas ainda sem conseguir reagir ou mesmo se levantar.
O primeiro encontro
Mesmo internada, Talita não apresentava melhoras. A situação inusitada, no entanto, chegou aos ouvidos da advogada Denise Schiaffino Bronichaki, que quis logo conhecer a cabra. “Pedi para vê-la e percebi seu olhar distante, sua aparência abatida, muito magra. Mas, na mesma época, 30 gatos precisaram ser encaminhados para o mesmo pet shop e eu sabia que ela demandava uma atenção maior. Foi nesse momento que sugeri ao proprietário do local que a deixasse passar um fim de semana comigo para ver não só se ela reagiria, mas também para que ele pudesse se dedicar aos felinos”, conta Denise.
A verdade é que Denise agiu no impulso e confessa que não sabia bem como cuidar de Talita, mas seguiu seu coração e a levou para casa mesmo assim. “Desta forma, no último sábado de janeiro de 2021, a cabra veio para minha casa, de maca. Ela tinha escaras profundas por conta do tempo imóvel deitada, sem nenhum tônus muscular e com pouquíssima disposição para se alimentar”, se emociona a tutora.
Uma longa trajetória
Apesar de não saber muito bem como lidar com as demandas do animal, Denise foi pesquisar sobre a espécie, entender do que se alimentavam, passou a testar vegetais e descobriu algo interessante: Talita ama comer maçãs e cenouras. “Não foi fácil, eu precisava mudar a posição dela a cada duas ou três horas, trocava os curativos duas vezes por dia, higienizava o local onde ela ficava diversas vezes ao dia para que urina e fezes não infectassem as feridas…”, descreve.
Uma das primeiras visitas que Talita recebeu na casa nova foi de um casal de fisioterapeutas, amigos de Denise, que notaram que não havia sinais de dano medular e, por isso, as chances da cabra voltar a andar eram promissoras. “Comecei uma busca intensa por veterinários, mas todos me diziam não atender caprinos. Foram diversas tentativas e um longo processo”.
Denise se dedicou a estudar, pesquisar formas de manter a cabra em pé, mas não conseguia fazer com que ela ficasse em tal posição ou exercitar sua coordenação motora. “Cheguei a fazer algumas tentativas com cordas e espumas, seus períodos em pé começaram a aumentar, mas não bastava, precisava fazer algum exercício”, conta.
Enquanto fazia tentativas e buscava a melhor maneira de ajudar Talita, a nova tutora lembrou de uma ocasião em que salvou uma pomba de um de seus gatos, mas que tinha ficado com problemas neurológicos. “Nessa ocasião, conheci a Dra. Vanessa Kopp e pensei que se ela havia cuidado da pombinha, cuidaria da cabritinha. Não a encontrei nas redes sociais, mas nas buscas conheci a Mundo à Parte”.
O começo da recuperação
Em fevereiro de 2021, Denise colocou Talita no carro e seguiu por 13km com o animal dentro do carro, berrando e gerando curiosidade por quem passava perto do veículo. “Quando chegamos na Mundo à Parte, fomos recepcionados por um grupo de veterinários empolgados com a nova paciente e quando entrei na clínica tive uma grata surpresa: a veterinária era a mesma Dra. Vanessa que havia me ajudado tempos atrás”.
Após fazer alguns testes, a veterinária indicou fisioterapia combinada com outros tratamentos. A recuperação estava cada vez mais próxima, mas ainda havia a questão de como custear todo o processo. Denise, advogada autônoma, em meio à pandemia, não sabia bem como conseguiria arcar com as despesas. “Passados dois dias desse primeiro encontro com a Dra. Vanessa, ela me ligou com uma notícia mais que positiva, os proprietários da clínica ficaram sensibilizados com a história e conseguimos um pacote de 14 sessões para que a Talita pudesse ficar bem”.
Tratamentos combinados
Segundo a Dra. Vanesa, as sessões de fisioterapia pelas quais Talita passou combinavam técnicas de acupuntura, laser, magnetoterapia, esteira aquática e diversos exercícios. “Com as sessões e o cuidado que recebia em casa, depois de seis meses, a Talita começou a dar seus primeiros passos e, hoje, só nos dá alegria”, comenta.
Um “quase final” feliz
Depois de tanto sofrimento e abandono, Talita agora tem um lar junto à Denise e seus outros bichinhos de estimação. Ela caminha com dificuldade e consegue se deitar sozinha, mas ainda requer ajuda para levantar. “Na cama dela, além do tatame, travesseiro e cobertores, também ficam tapetes higiênicos durante à noite. Ela sente bastante frio e, por isso, no inverno ganha roupinhas. Ela já não é bicho do campo faz tempo. Ela é um pet”.
A história da Talita ainda não se encerrou, ela precisa continuar o tratamento, já que ela também desenvolveu alguns problemas nos cascos por conta do piso em cerâmica. “Ela precisa de um local com piso natural. Penso que um dia ela poderá ser adotada por alguém que a cuide e ame muito, mas em um local menos urbano. Para isso, ela precisa ser independente para deitar e levantar quando quiser”, diz a tutora.
Pensar numa possível despedida não é fácil, mas Denise acredita que apesar de todo o amor que as uniu, é melhor que a cabritinha viva em um local maior, com mais verde. “Ela merece morar num sítio ou algo semelhante. Eu guardarei minha dor de separação, mas sei que será para o bem dela e vou comemorar que ela terá marcado o ponto final no placar da vitória”, finaliza emocionada.
(Matéria enviada gentilmente para o nosso site pela Manuella Tavares – da V3 Comunicação, de São Paulo).