
Projeto experimental da Conservação Internacional (CI-Brasil), em parceria com Otsuka Corporation, CI-Japão e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) implementou restauração em 9 hectares no Pará com espécies florestais frutíferas e alimentares, gerando renda para famílias de agricultores locais.
A expansão do cultivo agroflorestal nos estados brasileiros aumenta a lista de pontos favoráveis para a adoção da técnica. Além de ter vantagens sustentáveis, como aumento da diversidade e o enfrentamento ao aquecimento climático, experiências recentes demonstram o que mais interessa a qualquer empreendedor: rentabilidade. No Pará, estado que já é referência mundial na produção agroflorestal de cacau, um grupo de agricultores familiares de Tomé-Açú conseguiram triplicar o investimento inicial logo na primeira colheita.
O ganho econômico é um dos resultados mais importantes do projeto experimental implementado pela Conservação Internacional (CI-Brasil) em parceria com a Otsuka Corporation, CI-Japão e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) no município paraense. A iniciativa tem o objetivo de ampliar a restauração florestal e produtiva de áreas degradadas, em parceria com agricultores familiares, mas ao mesmo tempo garantir múltiplos benefícios aos agricultores.
Especialistas ressaltam, no entanto, que o desempenho observado em Tomé-Açu reflete um conjunto de condições específicas: o uso de arranjos agroflorestais amplamente testados na região, a presença de culturas de retorno rápido no início do sistema, o suporte técnico e financeiro na fase de implantação e um contexto ambiental favorável à alta produtividade. Por isso, a taxa elevada não deve ser interpretada como padrão, mas como um exemplo de desempenho máximo possível quando bem planejado e acompanhado.
Ainda assim, o dado tem relevância estratégica ao mostrar que a transição para modelos agroflorestais pode gerar ganhos econômicos concretos, funcionando como um estímulo para que agricultores familiares adotem formas de cultivo mais diversificadas, resilientes e alinhadas às agendas de sustentabilidade.
Para situar esse desempenho de Tomé-Açu, especialistas lembram que a produtividade em sistemas agroflorestais varia conforme as culturas e o manejo, mas alguns indicadores ajudam a colocar o dado em perspectiva. Em Sistemas Agroflorestais com cacau no Pará, por exemplo, a produtividade média gira em torno de 847 quilos por hectare, acima da média nacional da cultura, estimada em cerca de 483 quilos por hectare. Em municípios com desempenho excepcional, esse número pode chegar a 1.190 quilos por hectare — um pico cerca de 146% superior à média brasileira. Os dados indicam que, embora os resultados dependam de condições específicas, os SAFs podem alcançar ganhos expressivos de produtividade quando bem planejados e manejados.
A variedade das culturas agrícolas, que garante colheitas ao longo do ano, é a chave para essa estabilidade. “Ter colheitas ao longo do ano garante uma fonte contínua de renda. Além disso, a diversificação das espécies cultivadas reduz os riscos e contribui significativamente para a segurança alimentar,” explica Raimundo de Castro Caetano, técnico agrícola do IPAM. Ele complementa que, além da renda agrícola, a redução dos gastos com a compra de alimentos para consumo próprio também é um ganho significativo, embora muitas vezes não seja percebido pelos agricultores.
O projeto demonstrativo implementou a restauração em 9 hectares com enfoque produtivo, fortalecendo a economia rural e contribuindo com a regularização ambiental das propriedades de sete famílias. Foram plantadas 20.879 mudas de espécies florestais, frutíferas e alimentares, como cacau, açaí, banana, pupunha e mandioca. O custo médio de implantação e manutenção das áreas ao longo de um ano foi de R$ 2,9 mil por família. Esse valor não contabiliza o apoio fornecido pelo projeto – como no fornecimento de parte das mudas e sementes e equipamentos, apenas o investimento direto dos agricultores na contratação de mão de obra, aquisição de insumos ou tempo disponibilizado para a realização dos serviços de manutenção necessários à implantação e condução dos SAFs. Os resultados do experimento indicam que, mesmo com esse nível de investimento direto, é possível gerar retorno financeiro e ambiental significativo, reforçando o potencial dos SAFs como estratégia viável de produção e restauração.
A adoção de Sistemas Agroflorestais (SAFs) por agricultores familiares em Tomé-Açu, no nordeste do Pará, demonstrou resultados financeiros concretos no primeiro ciclo de produção: com apoio técnico e financeiro, dois agricultores registraram um retorno médio sobre o investimento de 281%. O resultado evidencia o potencial dos SAFs para gerar estabilidade econômica, ao mesmo tempo em que contribui para o enfrentamento da crise climática e a conservação da biodiversidade.
Os primeiros resultados demonstram como retornos socioeconômicos sustentáveis podem ser obtidos sem desmatamento no coração da Amazônia, uma das áreas mais biodiversas do planeta.
“O projeto é um exemplo de como a restauração também pode ser uma estratégia de desenvolvimento territorial. Ao associar conservação e produção através dos SAFs, a iniciativa gera renda, diversificação produtiva e segurança alimentar. Essa é uma Solução Baseada na Natureza (SBN) que traz benefícios concretos para o clima e a biodiversidade, ao mesmo tempo que transforma a vida das pessoas”, afirma Ludmila Pugliese, Diretora de Restauração de Paisagens e Florestas da CI-Brasil.
A restauração produtiva é uma abordagem de recuperação de ecossistemas que prioriza o plantio de espécies com valor comercial. Um dos exemplos mais conhecidos dessa abordagem são os SAFs, formas de uso da terra que combinam espécies nativas e cultivos agrícolas no mesmo espaço, integrando produção e restauração de maneira eficiente e alinhada às necessidades das famílias rurais. Essa estratégia recupera áreas degradadas enquanto estrutura cadeias produtivas sustentáveis que geram renda e fortalecem a permanência das pessoas em territórios rurais. Ao mesmo tempo, promove a diversidade de espécies e contribui para a mitigação e adaptação à crise climática por meio da captura de carbono e do aumento da resiliência das paisagens.
O agricultor José Rodrigues dos Santos, referência no território quando se fala de sistemas agroflorestais e agricultura familiar, relata alguns dos benefícios percebidos desde que começou a trabalhar com SAF: “Quando trabalhava com madeira, recebia apenas uma vez por mês. A renda era baixa em relação ao risco, e a vida era difícil. Com o SAF, passei a ter renda ao longo de todo o ano, e minha família ficou muito mais feliz.” O Sr. José Paixão, como é conhecido, obteve mais de R$16 mil em vendas com o apoio técnico e o incentivo financeiro do projeto ao longo de um ano.
A variedade das culturas agrícolas, que garante colheitas ao longo do ano, é a chave para essa estabilidade. “Ter colheitas ao longo do ano garante uma fonte contínua de renda. Além disso, a diversificação das espécies cultivadas reduz os riscos e contribui significativamente para a segurança alimentar,” explica Raimundo de Castro Caetano, técnico agrícola do IPAM. Ele complementa que, além da renda agrícola, a redução dos gastos com a compra de alimentos para consumo próprio também é um ganho significativo, embora muitas vezes não seja percebido pelos agricultores.
O projeto demonstrativo implementou a restauração em 9 hectares com enfoque produtivo, fortalecendo a economia rural e contribuindo com a regularização ambiental das propriedades de sete famílias. Foram plantadas 20.879 mudas de espécies florestais, frutíferas e alimentares, como cacau, açaí, banana, pupunha e mandioca. O custo médio de implantação e manutenção das áreas ao longo de um ano foi de R$ 2,9 mil por família. Esse valor não contabiliza o apoio fornecido pelo projeto – como no fornecimento de parte das mudas e sementes e equipamentos, apenas o investimento direto dos agricultores na contratação de mão de obra, aquisição de insumos ou tempo disponibilizado para a realização dos serviços de manutenção necessários à implantação e condução dos SAFs. Os resultados do experimento indicam que, mesmo com esse nível de investimento direto, é possível gerar retorno financeiro e ambiental significativo, reforçando o potencial dos SAFs como estratégia viável de produção e restauração.
Contexto de Tomé-Açu
O município de Tomé-Açu localiza-se no Centro de Endemismo Belém (CEB), uma das regiões mais ricas da Amazônia em biodiversidade, mas também uma das mais ameaçadas. Estima-se que 70% das florestas do CEB já tenham sido desmatadas. Em Tomé-Açu, o desmatamento já avançou para quase 60% do seu território. Entre 2018 e 2023, foi registrada uma média anual de 239 focos de calor, com aumento de quase 90% entre 2021 e 2023, o que representa um risco direto à produtividade agrícola e à estabilidade dos ecossistemas locais.
Apesar de ser um polo agroflorestal conhecido, a região ainda enfrenta desafios socioeconômicos, com o PIB per capita de aproximadamente R$16 mil, abaixo da média estadual. Em contraste, os agricultores apoiados pelo projeto registraram até R$ 16.400 apenas com as vendas dos produtos das SAFs, como melancia, macaxeira, pitaia, mamão, pepino, arroz e milho, demonstrando o potencial da abordagem para elevar a renda local. Diante da vulnerabilidade econômica e ambiental, agravada pelas mudanças no regime de chuvas e pela intensificação de eventos extremos, a restauração florestal com enfoque produtivo surge como resposta estratégica que alia benefícios ambientais, sociais e econômicos.
Sobre a Conservação Internacional (CI-Brasil) – A Conservação Internacional (CI-Brasil) é uma organização sem fins lucrativos que usa ciência, política e parcerias para proteger a natureza da qual as pessoas dependem para obter alimentos, água doce e meios de subsistência. Desde 1990 no Brasil, a Conservação Internacional trabalha em mais de 30 países em seis continentes para garantir um planeta saudável e próspero, que sustenta a todos. Mais informações: www.conservacao.org.br
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