O Pará sai na frente em se tratando de rastreabilidade de animais com foco em sustentabilidade, como exigem os mercados estrangeiros, especialmente da Europa. Pela primeira vez no Brasil (e talvez no mundo), foi lançado nesta quarta-feira (20), em Rio Maria (PA), o “Programa de Rastreabilidade Individual e Monitoramento de Indiretos” no Brasil.
O evento ocorreu na Chácara Umary, do empresário e pecuarista Roberto Paulinelli, do Frigorífico Rio Maria, e contou com a presença de representantes de empresas parceiras do projeto, pecuaristas e membros da família Paulinelli.
O projeto foi lançado por um grupo de parceiros: Frigorífico Rio Maria, Roberto Paulinelli, Niceplanet Assessoria em Conformidade, SBCert, Durlicouros, Banco Itaú e Andrade Yamashita, sendo que cada um dos participantes tem uma função específica no projeto.
Na oportunidade, com o apoio de colaboradores, Roberto Paulinelli fez a primeira “brincagem” em bezerros adquiridos da pecuarista Neila Leonel, da Fazenda Fortaleza, de Rio de Maria. “Estou muito feliz em a ser primeira pecuarista a fazer parte deste importante projeto socioambiental implantado no Pará. É importante. É crescimento para o Pará e região. Uma novidade que está iniciando aqui em Rio Maria. Muito gratificante a gente fazer parte desse lançamento”, afirmou dona Neila ao Conexão Rural.
Dia histórico
Segundo o pecuarista Roberto Paulinelli, “o protocolo pode ser aplicado em qualquer estado brasileiro por ter como base o SISBOV, aplicado juntamente com as análises dos critérios socioambientais estabelecidos em TAC´s, o protocolo Boi na Linha e acordos comerciais a mais de uma década”.
O empresário explicou como o projeto entrou na vida dele. “Esse projeto começou há muito tempo. O governo do Pará está implantando o Selo Verde para rastrear os animais. O mundo todo está cobrando isso e a Europa está exigindo dos países da América do Sul para comprar carne. E não compra mais se não comprovar a origem desse produto. Eu resolvi correr contra o tempo e como sou amigo do Jordan (diretor da Niceplanet Assessoria em Conformidade), resolvi falar com ele e incrementar o projeto”, declarou Paulinelli, um dos mais importantes pecuaristas do Pará, ressaltando que já faz há muito tempo a rastreabilidade da carne comprada pelo Frigorífico Rio Maria, mas não é certificada. E com o Projeto Rastreabilidade da Pecuária dos Indiretos tudo mudará para melhor”.
Rafael Andrade, consultor em rastreabilidade, declarou que os objetivos básicos do projeto são: “Implantar procedimentos para promover a rastreabilidade individual de bovinos e o monitoramento socioambiental dos fornecedores indiretos das indústrias frigoríficas. (Indiretos são as fazendas onde nascem e por onde transitam os bezerros e, posteriormente, são vendidos aos frigoríficos)”.
Andrade disse ainda que “é um sonho conseguir elevar a produção da pecuária brasileira em relação a todos os requisitos internacionais que cada vez estão fortes: rastreabilidade, bem-estar animal, desmatamento e trabalho escravo”. E acrescentou: “Esse é um momento histórico. Estamos muito felizes. Estivemos aqui no confinamento do pecuarista Roberto Paulinelli há uns 7 meses vendo tudo que já foi feito e desenvolvido junto aos fazendeiros e os frigoríficos. E ao ponto da gente fazer essa virada para frente e levar uma pecuária sustentável aqui do Pará e mostrar que a gente tem uma rastreabilidade completa desse nosso produto para levar para o mundo”.
Niceplanet
O consultor Jordan Timo Carvalho, sócio-diretor da Niceplanet Assessoria em Conformidade (parceira no projeto) destacou que o projeto beneficiará toda a pecuária, apontando solução para o problema da rastreabilidade com propósito sanitário e socioambiental.
– O mundo inteiro hoje valoriza a origem de produtos, principalmente produtos alimentícios. A gente observa que na pecuária mundial um dos critérios mais importantes, quando se trata de carne e couro, além da qualidade, é a rastreabilidade, a origem, a conformidade da fazenda onde o animal nasceu e foi criado. Esse projeto é o 1º do Brasil e talvez o 1º projeto mundial de rastreabilidade e visa trazer o histórico de permanência dos animais em cada fazenda que ele permaneceu durante a vida”, afirmou Jordan.
De acordo com Márcio Lupatini, coordenador de Território da Animalltag, empresa fabricante dos brincos, com sede no Mato Grosso, ”a chipagem surgiu no Brasil em 2003 e ganhou força em 2009-2010 com a criação do Sisbov, o sistema de certificação de bovinos e hoje é muita cultura da chipagem dos animais”
Lupatini explicou que cada animal recebe um chip, também chamado de botton eletrônico, que contém informações, como se fosse um RG ou CPF do boi, e essas informações são coletadas, guardadas e armazenadas no software, para você poder fazer uma consulta ou questionar um histórico e acompanhar o desempenho do animal: quanto de peso, quantas arrobas produz por dia, que dia entrou na fazenda, etc., com informações pertinentes àquele animal”.
Thiago Wilzler, da Certificadora SBC, disse que os frigoríficos já fazem o controle da origem dos animais adquiridos, mas o projeto de Rastreabilidade Individual lançado em Rio Maria é inédito no Brasil. “O mundo procura um produto que não tenha nenhum passivo socioambiental no decorrer da vida do animal, independente se ele passou por uma fazenda ou por 10 fazendas”.
Para Ivens Domingos, Gerente de Sustentabilidade da Durlicouros, “fazer parte deste importante projeto está em linha com a responsabilidade socioambiental de nossa empresa e a preocupação com a originação responsável do couro”.
Segundo ele, “o mercado internacional está cada vez mais exigente com critérios socioambientais e rastreabilidade, e este projeto inédito alinhado ao nosso Programa de Rastreabilidade Completa, irá contribuir para uma transformação positiva setorial, e irá demonstrar que a colaboração entre diversos parceiros e setores pode ser implementado com sucesso e gerar resultados em escala”.
Nesta quinta-feira (21) o projeto foi apresentado a pecuaristas do sul do Pará e ao presidente do Sindicato Rural de Redenção, Márcio Borges, em evento também na Chácara Umary.
(Por Lima Rodrigues, de Rio Maria – PA