A “Beef Hour by Feicorte” movimentou novos debates nesta quinta-feira (21/11). Ao iniciar o ciclo de apresentações do dia, o tema “Qualidade da carne em sistemas de produção desafiadores” foi destaque, conduzido por Roberto Barcellos e Marcelo Carvalho, que compartilharam insights e tendências sobre o setor.
O especialista em carne de qualidade, consultor e proprietário da BBQ Secrets, Roberto Barcellos trouxe um novo olhar sobre a forma de comunicar o produto “carne bovina”. Barcellos destacou a importância de criar uma conexão emocional com o consumidor no mercado de carnes.
Segundo ele, algumas marcas foram além do vínculo comercial, estabelecendo uma relação que conversa com o coração dos clientes. “Essa marca foi criada com base no conceito de design thinking, atendendo às expectativas de quem desejava consumir”, afirmou. Barcellos explicou que esse processo foi pensado “de trás para frente”, ou seja, com foco total nas necessidades e desejos do consumidor. Durante sua apresentação, ele também introduziu a Carapreta, que considerou “o maior projeto do Brasil” a adotar essa filosofia.
Dividindo o palco com Barcellos, o diretor da Indústria da Carapreta, Marcelo Carvalho destacou a qualidade como diferencial da marca, além do projeto “Parceiro Produtor”, que visa conectar produtores com genética de ponta fornecida pela parceria com a empresa Semex, uma colaboração para garantir marmoreio, maciez e acabamento superiores — características que definiam o padrão da marca.
De acordo com Carvalho, a qualidade começa com a escolha criteriosa da genética: “Desde a seleção do touro, priorizamos características como marmoreio, acabamento e maciez. Além disso, trabalhamos com regularidade na produção graças ao nosso confinamento, o que nos permite manter a excelência ao longo do ano”.
A indústria também adota um conjunto de boas práticas, que incluem o cuidado com a dieta dos animais, os processos de abate e o manejo pós-abate, como a maturação da carne. “É esse conjunto de fatores que diferencia nossa carne no mercado”, reforçou o diretor.
Outro ponto forte do projeto foi o investimento em tecnologia. A Carapreta utiliza inteligência artificial, softwares de gestão e sistemas de acompanhamento de dados para garantir eficiência e precisão em todas as etapas, desde a fazenda até a indústria.
No painel “Como aumentar a qualidade média da carne brasileira”, o debate girou em torno de inovação e estratégias para impulsionar o setor. O consultor Roberto Grecellé abriu a discussão enfatizando a importância do conhecimento e citando contribuições de destaque, como a da diretora Técnica da DGT Brasil, Liliane Suguisawa, cuja ferramenta de ultrassonografia computadorizada acelera os avanços na produção de carne de qualidade, e do pecuarista Arlindo Vilela, reconhecido por sua expertise em intensificação.
Arlindo Vilela, que soma décadas de experiência no setor, reforçou a intensificação como peça-chave para elevar os padrões da pecuária nacional. Segundo ele, trata-se de uma abordagem estratégica que combina maior produtividade, margens otimizadas e carne de qualidade superior, com atributos que atendem às demandas do mercado, como marmoreio e gordura bem trabalhados. Além disso, ele destacou que a intensificação pode ser realizada de forma sustentável por meio de modelos como a Terminação Intensiva a Pasto (TIP) e a Recria Intensiva a Pasto (RIP).
Vilela também relembrou o marco da tropicalização de dietas que substituiu o foco em custos mínimos pelo conceito de lucro máximo. “Essa inovação revolucionou o confinamento no Brasil e abriu caminho para novos avanços tecnológicos no setor”. Apesar do progresso, o especialista reconheceu que desafios climáticos, como altas temperaturas e chuvas intensas, ainda exigem soluções inovadoras para potencializar os sistemas de produção em regiões tropicais.
Em sua apresentação, Liliane Suguisawa apresentou a ultrassonografia de carcaça como uma ferramenta inovadora que está transformando a seleção genética e a produção de carne no Brasil. Inspirada em metodologias norte-americanas, a tecnologia permite medir com precisão as características internas dos animais, ajudando produtores a tomar decisões baseadas em dados concretos e não em suposições.
Liliane ainda destacou que essa técnica foi fundamental para o sucesso da raça Angus nos Estados Unidos, que passou de um animal pouco expressivo nos anos 1950 para um dos mais eficientes do mundo. “A ultrassonografia de carcaça funciona de forma prática: os técnicos certificados utilizam equipamentos avançados para analisar os animais diretamente na propriedade. Por meio da sonda, são avaliados aspectos como o tamanho do contrafilé, a espessura da gordura de acabamento e a proporção entre carne e estrutura óssea”, explicou. Essas informações são importantes para aprimorar a seleção genética e alinhar a produção às demandas do mercado, com foco em qualidade e eficiência.
Ao encerrar a programação, a Estância 92 Angus promoveu uma discussão sobre exportação, qualidade da carne e tendências de mercado para 2025. O gerente de Relacionamento com Pecuarista do Minerva, Rostyner Costa enfatizou a importância do evento para o setor pecuário brasileiro. “A Feicorte, para o Minerva, foi uma referência, mesmo após 10 anos sem ocorrer. Foi extremamente importante ela voltar, especialmente neste momento tão especial para a pecuária”, destacou Costa.
Durante sua apresentação, Costa reforçou o protagonismo do Brasil como exportador global, com atuação em mais de 150 países. “O mundo está de olho em nós por conta do potencial que temos. Não existe outro país capaz de fornecer carne como o Brasil”, afirmou. No entanto, ele destacou a necessidade de compreender as demandas específicas de cada mercado e se preparar para atendê-las.
Para ilustrar esse ponto, foram apresentadas no palco da Beef Hour by Feicorte duas carcaças: uma com acabamento escasso, resultado de produção sem suplementação, e outra no padrão mais desejado por mercados exigentes, como a União Europeia. A ideia, segundo Costa, foi demonstrar o caminho para transformar a produção brasileira, investindo em qualidade e certificação para acessar nichos mais valorizados.
“O primeiro passo para atingir esse tipo de carcaça desejada foi mudar o mindset. O mundo mudou e nós precisávamos mudar também”, concluiu, ressaltando que o setor precisa alinhar inovação e estratégia para consolidar o Brasil como referência global em carne de qualidade.
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