
A saúde dos cascos representa um dos alicerces mais críticos na manutenção do bem-estar, da longevidade e do desempenho atlético dos equinos. Responsáveis por suportar toda a massa corporal do animal e absorver o impacto das passadas, os cascos exercem papel essencial na estabilidade, locomoção e equilíbrio biomecânico. Sua estrutura, formada por tecidos queratinizados e altamente especializados, é frequentemente descrita como um “sapato natural” — porém, ao contrário de uma peça substituível, exige atenção contínua e manejo técnico apurado.
De acordo com a médica-veterinária Camila Senna, coordenadora técnica de equinos da Ceva Saúde Animal, o cuidado com os cascos deve ser visto como prioridade dentro de qualquer sistema de manejo. “O cavalo pode estar bem condicionado, receber alimentação balanceada e treinamentos específicos, mas se os cascos estiverem comprometidos, todo o conjunto locomotor entra em colapso. Isso afeta desde a performance até a qualidade de vida do animal,” afirma.
Os cascos não são estruturas inertes. São formados por componentes com funções distintas e complementares: a parede do casco, a sola, a ranilha e a linha branca (estruturas externas). Essas estruturas trabalham de forma sinérgica para sustentar o peso do animal, absorver impactos, oferecer tração e proteger as estruturas internas, como as falanges e os tecidos vasculares. Pequenos desequilíbrios nessas regiões podem ter consequências biomecânicas significativas.
“A integridade funcional do casco está diretamente relacionada à movimentação correta dos membros. Quando há um desgaste irregular ou um erro de angulação, o cavalo compensa o movimento, e isso sobrecarrega tendões, ligamentos e articulações. A longo prazo, isso resulta em lesões degenerativas e até claudicações irreversíveis,” explica Camila.
Entre os principais distúrbios que afetam os cascos, destacam-se a laminite, os abscessos, as rachaduras, a doença da linha branca e o casco quebradiço. Essas condições podem surgir por fatores diversos como alimentação inadequada, manejo incorreto, excesso de umidade, má ferradura e genética.
A laminite, por exemplo, é uma inflamação aguda ou crônica da lâmina sensível entre a parede do casco e a terceira falange. É extremamente dolorosa e debilitante. Pode ter origem metabólica (associada à obesidade e resistência à insulina), mecânica (sobrecarga) ou tóxica (infecções sistêmicas).
“A laminite é uma das emergências ortopédicas mais sérias na medicina equina. Em casos graves, pode levar ao afundamento ou rotação da terceira falange, exigindo tratamento intensivo,” alerta Camila.
Já a doença da linha Branca é um processo infeccioso que afeta a junção entre a parede do casco e a sola. Causada por fungos ou bactérias oportunistas, compromete a integridade estrutural do casco, podendo provocar descolamentos e colapsos da parede.
Os abcessos subsolares, por sua vez, são infecções localizadas dentro do casco, geralmente associadas à entrada de corpos estranhos, contaminação por umidade ou fissuras não tratadas. Produzem dor aguda e repentina, muitas vezes confundida com lesões mais graves.
Além disso, as rachaduras e Fissuras são problemas comuns em animais submetidos a pisos abrasivos, casqueamento irregular ou em ambientes muito secos ou úmidos. Embora nem sempre causem dor de imediato, podem evoluir para quadros infecciosos ou afetar o equilíbrio do apoio.
Outro ponto de atenção são cascos quebradiços ou frágeis, que podem ser resultado de deficiências nutricionais, genética ou desequilíbrios ambientais. Prejudica a capacidade do casco de suportar ferraduras e aumenta o risco de fraturas na parede.
A prevenção dessas enfermidades passa por um manejo rigoroso e diário. A limpeza constante, o casqueamento técnico realizado entre 30 e 45 dias, a observação de alterações sutis no casco e o controle ambiental são medidas essenciais. Um ambiente constantemente úmido, por exemplo, favorece infecções oportunistas, enquanto um solo muito seco e duro pode provocar trincas e traumatismos.
A suplementação nutricional com biotina, metionina, zinco e outros nutrientes específicos também têm papel importante na manutenção da resistência e da elasticidade da parede do casco. “O casqueamento não é um procedimento estético, mas uma intervenção funcional. Um milímetro de erro no plano da sola pode mudar toda a angulação do membro e gerar sobrecarga nas estruturas internas”, reforça Camila.
Outro ponto essencial é o trabalho conjunto entre o médico-veterinário e o ferrador. Esse alinhamento técnico garante que as decisões de correção postural, uso de ferraduras terapêuticas ou ajustes no eixo do casco sejam tomadas com base em avaliação clínica detalhada. Em cavalos com conformações anormais, histórico de laminite ou uso intenso em atividades de alto impacto, esse acompanhamento multidisciplinar é indispensável. “Costumo dizer que o cavalo não pode esperar. Quando há um sinal de dor, desconforto ou claudicação, a resposta precisa ser rápida, integrada e assertiva. O sucesso da recuperação depende da identificação precoce do problema que está afetando o animal”, destaca Camila.
Mais do que uma questão de manutenção básica, a saúde dos cascos é um fator decisivo para o desempenho, a longevidade e a qualidade de vida do cavalo. Trata-se de uma base literal e fisiológica de sustentação, locomoção e performance. Um olhar atento, uma gestão preventiva eficaz e a atuação de profissionais capacitados são os fatores que garantem que essa base — literalmente — se mantenha sólida ao longo de toda a vida do animal.
Sobre a Ceva Saúde Animal
A Ceva Saúde Animal (Ceva) é a 5ª empresa global de saúde animal, liderada por veterinários experientes, cuja missão é fornecer soluções de saúde inovadoras para todos os animais e garantir o mais alto nível de cuidado e bem-estar. Nosso portfólio inclui medicina preventiva, como vacinas, produtos farmacêuticos e de bem-estar para animais de produção e de companhia, como também equipamentos e serviços para fornecer a melhor experiência para nossos clientes. Com 7.000 funcionários em 47 países, a Ceva se esforça diariamente para dar vida à sua visão como uma empresa OneHealth: “Juntos, além da saúde animal”.
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