A cultivar de capim-elefante BRS Capiaçu foi tema de um dia de campo realizado na terça-feira (4), em Paracatu (MG). O evento foi promovido pela Cooperativa Agropecuária do Vale do Paracatu (Coopervap), em parceria com a Embrapa Cerrados, no âmbito do Programa Mais Leite Saudável, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A Coopervap tem incentivado entre os produtores o plantio do BRS Capiaçu como uma estratégia para aumentar a oferta de forragem para a seca a baixo custo.
O dia de campo foi realizado na propriedade dos agricultores Roberto e Ângela Celestino, localizada no Projeto de Assentamento Herbert de Souza. No local, foi instalada uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) com o objetivo de testar ajustes no sistema de cultivo do BRS Capiaçu (Sistema Alternativo) em comparação com o sistema de cultivo tradicionalmente usado pelos agricultores. “Há produtores que já plantam o capim, mas é necessário fazer melhorias no sistema de cultivo para aumentar a eficiência da produção”, explica o analista do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Embrapa Cerrados, Carlos Eduardo Santos.
Durante o evento, foram realizadas palestras com apresentações e dados técnicos da propriedade e os resultados do plantio do BRS Capiaçu – uma variedade desenvolvida pelo programa de melhoramento genético do capim elefante coordenado pela Embrapa Gado de Leite. A cultivar BRS Capiaçu se destaca por sua alta produtividade e alto rendimento para produção de silagem.
O técnico da Embrapa Cerrados, José Carlos Rocha, apresentou as características da cultivar e aspectos técnicos da produção de silagem com o BRS Capiaçu e, em seguida, Daniel Cardoso, técnico do Projeto Leite Mais Coopervap, repassou os resultados técnicos e econômicos do uso do capim na propriedade como alternativa para alimentação dos animais em períodos de seca.
O produtor Roberto Celestino deu sua opinião sobre as vantagens do uso da BRS Capiaçu na alimentação do rebanho e os resultados que têm obtido a partir do cultivo do capim em sua propriedade. Após as apresentações, os participantes tiveram a oportunidade de ir a campo, visitar uma capineira do BRS Capiaçu e visualizar as características e benefícios da produção do capim para a alimentação do rebanho.
O presidente da Coopervap, Valdir Rodrigues de Oliveira, destacou a importância do evento para aprimorar os conhecimentos sobre as técnicas de produção de leite. “Estamos muito felizes em receber os produtores e compartilhar conhecimentos sobre a utilização do BRS Capiaçu na produção de leite. Esperamos que o evento tenha sido muito produtivo e que possamos aprender ainda mais juntos e trocar experiências positivas no futuro”, afirmou.
Já o vice-presidente da Coopervap, Lionel Oliveira dos Santos, destacou a parceria com a Embrapa Cerrados na validação de tecnologias junto aos produtores rurais, dinamizando a assistência técnica ao produtor, por meio da execução de uma política pública para o setor. “Agradecemos a presença da Embrapa Cerrados e a contribuição na evolução da pecuária leiteira, trazendo tecnologia e inovação para o campo. Acreditamos que o BRS Capiaçu tem um grande potencial na produção de leite e queremos aproveitar todas as informações obtidas neste evento para otimizar a nossa produção”, afirmou.
A URT – de acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrados, José Humberto Xavier, parte da área da Unidade de Referência Tecnológica foi plantada com o Sistema Alternativo (SA) e outra com Sistema Tradicional (ST). Segundo ele, foram sugeridos para teste dois ajustes: a) Uso de gesso para correção subsuperficial do solo, visando aumentar a tolerância do cultivo ao estresse hídrico causado pelos veranicos, comuns na região dos Cerrados; b) Melhoria da adubação nitrogenada (120 kg/ha de nitrogênio) devido à alta demanda desse nutriente para o alcance de altas produtividades pelo BRS Capiaçu.
O pesquisador avalia os resultados como promissores (veja aqui). No primeiro corte o Sistema Alternativo (SA) alcançou quase as 100 toneladas/ha indicadas pela Embrapa Gado de Leite. No entanto, os gastos também foram duplicados. Em consequência, os gastos por tonelada de matéria verde e de silagem nos dois sistemas foram praticamente os mesmos. “É importante destacar que esses valores da tonelada de silagem foram muito baixos quando comparados a outras opções como a silagem de milho ou a compra de silagem na região”, explica.
O pesquisador ressalta, ainda, que o gasto com gesso foi todo computado neste ano agrícola. “Se diluirmos os gastos com gesso em cinco anos, os gastos/ha do SA ficariam cerca de 62% maiores ao invés de 100%, e os gastos por tonelada de silagem do SA seriam aproximadamente 19% menores. Em outras palavras, o SA pode produzir uma silagem ainda mais barata”, explica.
Outro aspecto importante, segundo ele, é a redução do risco de escassez de volumoso no período seco, uma vez que se o produtor tivesse empregado o SA na área toda (0,287 ha) ele teria cerca de 11 toneladas a mais de silagem para usar. “Isso pode significar uma quantidade de dias importante para o produtor alimentar o rebanho até que as pastagens estejam em condições de uso no final da seca ou a antecipação do trato dos animais no início da seca ou, ainda, melhorar a alimentação das novilhas na seca. Todas essas questões foram discutidas com os produtores no dia de campo”, contou.
O projeto – o Mais Leite Saudável é uma parceria entre a Embrapa Cerrados e a Coopervap e surgiu como desafio de ampliar a atuação da Unidade de Pesquisa e trabalhar territórios, envolvendo parceiros locais, com capacidade operacional e comprometimento. A participação da Embrapa é materializada no projeto de pesquisa “Validação de ativos tecnológicos para promover a inovação com agricultores familiares e o fortalecimento do arranjo produtivo do leite no Noroeste de Minas Gerais”.
A cooperativa, por sua vez, atua na região Noroeste de Minas Gerais, que possui cerca de 10 mil estabelecimentos que produzem leite, e busca desenvolver soluções para os agricultores familiares pequenos produtores de leite, que têm expressiva participação na sua base social. Nessa fase inicial dos trabalhos, foram selecionadas pela cooperativa uma rede de 100 fazendas que são acompanhadas mensalmente por uma equipe técnica da Coopervap composta por dois agrônomos e dois veterinários.
Vale destacar que os estabelecimentos familiares com produção leiteira na região Noroeste possuem características particulares. Normalmente, estão localizados em áreas com altitudes mais baixas, que apresentam temperaturas médias elevadas e, consequentemente, maior estresse hídrico na ocorrência dos veranicos, comuns na região dos Cerrados. “Isso acarreta maior risco climático e comprometimento à produção de alimentos para o rebanho. Essa rede de estudo é um ambiente privilegiado para o teste de novas tecnologias diretamente com os agricultores”, explica o pesquisador.
Programa Mais Leite Saudável (PMLS) – o PMLS é um programa do MAPA de incentivo fiscal. Ele oferece a oportunidade para os laticínios/cooperativas obterem um desconto (tratado como crédito presumido) de até 50% no valor a ser pago de PIS/Pasep e da COFINS sobre a comercialização do leite cru utilizado como insumo em seus processos agroindustriais. Como contrapartida, os estabelecimentos devem implementar projetos de fortalecimento e qualificação da cadeia produtiva por meio de ações diretas junto aos produtores. É nesse contexto que está sendo executado o projeto Mais Leite Coopervap.
Há outras URTs sobre o BRS Capiaçu conduzidas pelos agricultores no âmbito do projeto, assim como foi instalado experimento em parceria com a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM – Campus Unaí) testando o Sistema Alternativo em comparação ao Sistema Tradicional. Todas essas informações coletadas servirão de base para a produção de recomendações técnicas adaptadas à realidade dos agricultores familiares do Noroeste de Minas Gerais.
Juliana Caldas – Embrapa Cerrados – com informações da assessoria da Coopervap