Elas já comandam 30 milhões de hectares de propriedade rurais, ou seja, 21% das fazendas no país, e em uma década o número de estabelecimentos rurais administrados por mulheres aumentou de 44,16%. Novas gerações de gestores e profissionais do agronegócio já lidam melhor com equidade entre gêneros
O agro é pop, é tech, e sim, é cada vez mais feminino. As mulheres são responsáveis por 34% dos cargos gerenciais no agronegócio brasileiro, de acordo com pesquisa de 2018, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ainda segundo o levantamento, elas já comandam mais de 30 milhões de hectares de propriedade rurais, ou seja, 21% das fazendas do país. A média brasileira está acima da mundial, que de acordo com estudo da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – apenas 15% das propriedades rurais no mundo são gerenciadas por elas.
Os dados dos dois últimos Censos Agropecuários (de 2006 e 2017) mostram que houve um aumento de 44,16% no número de estabelecimentos administrados por mulheres – de 656.225 para 946.075, respectivamente, mesmo com uma redução de 5.175.636 para 5.056.525 no número de estabelecimentos agropecuários. Líderes do setor, reconhecem que a crescente presença das mulheres no agronegócio já não é mais uma simples tendência, mas sim uma consolidação e, felizmente, um caminho sem volta e melhor.
“É incrível como as mulheres estão participando cada vez do dia a dia do agronegócio. No passado, por exemplo, toda nossa força de vendas da Pivot era de homens. Hoje, temos várias consultoras de campo mulheres. E isso vem só aumentando e de uma forma muito natural, pela meritocracia. Temos também mulheres que fazem entrega técnica de máquinas e na parte administrativa, elas estão dominando, e merecidamente”, afirma Cauê Campos, CEO da Pivot Máquinas Agrícolas, uma das líderes nacionais na comercialização de maquinários agrícolas e sistemas de irrigação.
Uma nova imagem
Trabalhando com marketing há 27 anos, a gerente de marketing Emília Ferreira entrou no universo do agronegócio quando foi convidada para assumir o comando desse departamento na Pivot. Diferente do que muitos possam pensar, o seu trabalho na empresa não se restringe a atividades burocráticas dentro de um escritório. “O trabalho do marketing, principalmente aqui na Pivot, nunca foi só no escritório. Eu e minha equipe estamos sempre em campo, organizando a participação da empresa em feiras e outros eventos. Estar presente nesses grandes eventos do agronegócio é uma experiência muito importante para esse cliente do agro e eu particularmente adoro trabalhar com eventos e no agro isso me chamou ainda mais atenção”, enfatiza Emília ao falar com empolgação sobre o seu trabalho na Pivot.
A gerente admite que ainda hoje, quem atua no agro, seja como produtor ou profissional, traz uma imagem de alguém mais rústico, sistemático e às vezes simplório, mas ela também esclarece que mesmo com esse “jeitão” mais rústico, quem faz parte do setor está aberto às mudanças, e as mulheres, em grande parte, são responsáveis por isso. “Eu percebo que as mulheres, em especial aquelas que são sucessoras em grandes propriedades ou em grandes empresas do agronegócio, têm sido as grandes responsáveis por essa mudança nesse estilo mais rústico, trazendo mais leveza e cuidado. Portanto, a presença das mulheres tem trazido sim uma melhora para o ambiente do agro, seja no operacional ou no ambiente de negócios, com mais capacitação, com uma visão de mais cuidado, mais empatia e mais conciliadora”, argumenta Emília.
A gerente de marketing também atribui essa mudança, para melhor, em relação ao trabalho da mulher no agro, ao avanço das conquistas femininas que têm seguido por gerações. “Hoje, a grande maioria das mulheres, não têm medo e sabem se posicionar sempre que necessário, por isso acredito que esse nosso avanço, não só no agro, mas em outros vários setores continuará forte”, enfatiza.
Gerações diferentes
Atuando no setor do agronegócio desde 2017, quando entrou na Pivot como estagiária de Engenharia Mecânica, a vendedora externa e projetista de irrigação Isabella Inácio Alvim de Resende Fraga conta que já viveu, ainda na faculdade, esse sentimento de deslocamento, por atuar em ambientes ainda predominantemente masculinos. “Sou engenheira mecânica e desde do início dos estudos acadêmicos já percebia as resistências de ser uma mulher no meio de tantos homens. A partir do momento em que decidi ir para o ramo do agro continuei vivenciando essa dificuldade. Porém, com mais de 5 anos de carreira, eu consegui me consolidar no meio”, afirma a consultora de vendas, ao destacar que o apoio e o reconhecimento de sua competência pela empresa onde trabalha hoje ajudou em sua ascensão profissional.
Hoje Isabella diz que vê com grande alegria o enorme número de mulheres que estão entrando no agronegócio, sejam como produtoras rurais ou como profissionais da área, e reconhece que a cabeça das pessoas está mudando. “Durante todo esse período tem sido gratificante ver tantas outras mulheres entrando no meio e outras ainda subindo de cargo. Acredito que hoje está consolidado que a qualidade de um profissional independe do gênero”, afirma.
Sobre alguma desconfiança que ainda possa se ter hoje em relação ao trabalho da mulher no campo, Isabella diz que isso está relacionado aos mais antigos, e afirma que os novos gestores e gestoras do setor já estão familiarizados com a diversidade. “Essa desconfiança está mais ligada à velha guarda. Aos produtores mais conservadores criado em uma política diferente da nossa realidade atual. Porém os filhos dessa geração foram criados em uma outra realidade e aceitam melhor essa relação de mulher e o Agro”, avalia.
Já na segunda geração de comando da empresa, Cauê Campos compartilha do pensamento de Isabella sobre a mudança de visão de quem trabalha no agronegócio hoje em dia. “Nas fazendas também estamos acompanhando essa evolução. Muitas mulheres que hoje são chefes nas fazendas, cuidam de todas as estratégias, das compras de maquinário e de decisões importantes. No passado, era comum que isso fosse assumido pelos homens. Esse cenário mudou e o avanço da igualdade entre gêneros no campo tem sido visível e irá mais além, pode ter certeza”, destaca o CEO do Grupo Pivot.
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