Governo distrital e concessionária de energia estão cientes do problema, mas não
oferecem soluções
Moradores e produtores do PAD-DF e de núcleos rurais próximos sofrem há anos com
graves falhas no abastecimento de energia da região. A eletricidade que chega ao local
não tem a tensão necessária para que os aparelhos elétricos – incluindo as máquinas
industriais das empresas lá instaladas, como a Cooperativa Agropecuária da Região do
Distrito Federal (Coopa-DF) – operem adequadamente. As quedas e as oscilações de
energia também são um risco aos aparelhos, que podem estragar, e inúmeros relatos
dão conta dos bens danificados.
O problema é recorrente, mas ganha proporção em época de colheita da safra, no que
se refere às atividades produtivas. A falta de qualidade da energia impede, por exemplo,
a secagem e condução dos grãos até os silos da Coopa-DF e que os caminhões com a
colheita que vêm das fazendas descarreguem a produção na cooperativa. Como os
caminhões não descarregam, não podem voltar às fazendas, para um novo
carregamento. O resultado é que a colheita também tem que parar, até o retorno dos
veículos.
O funcionamento de aplicativos das máquinas digitais e de irrigantes usados nas
fazendas é outra área afetada. Às vezes, essas atividades têm que ser paralisadas, e em
outras são tocadas mais lentamente, sob o risco de danos às máquinas. No caso do
descarregamento, por exemplo, os caminhões chegam a formar filas, em razão do
atraso.
Os produtores tentam contornar as dificuldades. A Coopa-DF usa, por exemplo, um
gerador para manter o moinho de trigo funcionando, mas a um custo que chega a ser
quase o dobro da conta de luz.
Amparada por estudos técnicos de medição da potência elétrica, que confirmam a falha
no abastecimento, a cooperativa denunciou o problema várias vezes ao governo e à
concessionária local de abastecimento elétrico, a Neo. “A resposta que recebemos é que
a questão está sob análise e que estão procurando resolver o assunto. Mas seguimos
sem ver uma solução para essa falha que é grave e gera prejuízos aos produtores”,
registra o presidente da Coopa-DF, José Guilherme Brenner.
Cadeia afetada
Vários relatos dão conta da dimensão do problema. Samuel Costa, funcionário da
Coopa-DF responsável pelo descarregamento dos grãos, detalha um episódio recente
de falta de energia. “Neste final de semana, foram dois dias sem eletricidade, e os
motores não puderam ser acionados. O descarregamento parou, o que significa que a
colheita também ficou paralisada. A concessionária de energia precisa resolver a
situação o mais rápido possível.”
Da porteira para dentro são inúmeros os transtornos que as falhas de abastecimento
causam. O produtor Leomar Cenci, que está colhendo sua safra, confirma que se a
estocagem e armazenagem dos grãos na cooperativa param, a colheitadeira no campo
também fica paralisada. “É uma cadeia inteira afetada.”
Além disso, ele registra que o funcionamento de irrigantes e máquinas em geral fica
prejudicado. “A maioria das máquinas hoje depende de internet ou sinal via satélite para
operar. Tem ainda a parte administrativa. Sem energia, computadores não funcionam e
não conseguimos nem emitir nota fiscal. São dificuldades imensas.”
O produtor questiona ainda a falta de transparência na medição do consumo,
levantando a possibilidade de erros. “Em um determinado mês, minha conta de luz veio
muito acima da média de consumo da fazenda. Em razão da falta de esclarecimentos
por parte da concessionária, eu tive que ir à justiça. Isso sem falar no aumento das tarifas
nos últimos anos.”
Os caminhoneiros Adar da Costa e Rafael conduzem os veículos que levam a produção
das fazendas até a cooperativa. Junto com outros motoristas, eles enfrentam as filas que
se formam no descarregamento dos caminhões, e pedem soluções.
Bens perdidos
Nadja Lima, casada com produtor rural, mora numa fazenda no Núcleo Rural Café sem
Troco. Ressalta que o problema de abastecimento ocorre há anos e nos últimos meses
tem piorado. “No início de janeiro, as seis famílias que moram na propriedade passaram
cinco dias sem energia, e perderam todos os alimentos que havia nas geladeiras e
freezers. Agora em março, por causa da oscilação, a minha máquina de lavar roupas e
geladeira estragaram.”
Hélio Amâncio é morador do Núcleo Rural Jardim II e reforça como as quedas de energia
e a demora no restabelecimento pela concessionária pioraram. Aponta ainda o aumento
nas tarifas. “Pagamos muito caro pela energia e não temos qualidade nenhuma.”
Weber de Brito, morador do PAD-DF, também observa que a frequência desses
problemas cresceu. “Eu mesmo tive aparelhos estragados por conta das oscilações. É
um problema muito grave que afeta toda a região.”
Informações para a imprensa:
Vincere Comunicação
Camila Gomes
Pedro Costa