
Posicionamento, que foi articulado por 38 municípios durante o LUPPA LAB, destaca sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis como resposta à crise climática
Representantes de 38 cidades brasileiras estiveram reunidos entre os dias 19 e 23 de maio, em Barcarena (PA), para participar do LUPPA LAB, encontro presencial do programa LUPPA – Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares, considerado o maior laboratório de políticas públicas alimentares do mundo. Durante o evento, foram colhidas contribuições de gestores municipais e membros da sociedade civil para a construção de um posicionamento conjunto para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro, em Belém (PA). A iniciativa reforça o papel estratégico dos municípios na transformação dos sistemas alimentares como resposta à crise climática.
O LUPPA LAB é a etapa presencial do LUPPA, programa que articula uma rede de cidades comprometidas com a promoção de políticas alimentares intersetoriais, sustentáveis e participativas. Realizado pelo Instituto Comida do Amanhã e pelo pelo ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade, o programa promove formações, trocas e cooperação entre gestores públicos para fortalecer a agenda alimentar urbana no Brasil.
Durante os cinco dias do LUPPA LAB, os representantes municipais participaram de oficinas, dinâmicas e painéis temáticos que abordaram desde a governança intersetorial das políticas alimentares até desafios de financiamento, compras públicas da agricultura familiar, valorização da cultura alimentar de povos indígenas e quilombolas, e o uso de moedas sociais como ferramenta de combate à insegurança alimentar. A realização do evento na mesma região onde acontecerá a COP30 confere ao posicionamento dos representantes uma relevância política e simbólica ainda maior, especialmente diante dos desafios globais relacionados às mudanças climáticas e à construção de sistemas alimentares sustentáveis.
“Este ano, decidimos fazer essa construção diretamente com as cidades aqui presentes, vivenciando a experiência no território, sentindo a floresta pulsar e toda essa atmosfera que envolve o momento. A expectativa é que os sistemas alimentares ganhem cada vez mais espaço nas discussões climáticas, especialmente no Brasil. Não é possível falar de clima sem considerar a alimentação. Precisamos de sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis, justos e sociobiodiversos. É da biodiversidade que depende a nossa própria existência”, destaca a diretora do Instituto Comida do Amanhã, Francine Xavier. Desde a COP28 o LUPPA elabora posicionamentos conjuntos sobre sistemas alimentares.
O posicionamento do LUPPA deste ano será também incluído em um capítulo da Carta de Prefeitos do ICLEI, documento global que expressa as prioridades de governos nas negociações climáticas internacionais.
Municípios como protagonistas da mudança
O posicionamento que será levado à COP30 reúne propostas baseadas nas contribuições das cidades participantes do LUPPA LAB, colhidas ao longo do evento por meio de uma escuta estruturada. Entre as principais diretrizes estão o fomento à agroecologia urbana e periurbana como estratégia de mitigação e adaptação às mudanças climáticas; a promoção da segurança e da soberania alimentar, com ampliação do financiamento para ações de adaptação climática; e o financiamento justo para agricultores familiares, facilitando o acesso da população a dietas saudáveis e sustentáveis. Outro ponto central é a preservação das florestas em pé, reconhecendo que biodiversidade, cultura e recursos naturais são elementos fundamentais para garantir segurança alimentar, justiça climática e o bem-estar das populações locais.
“Precisamos pensar na manutenção dos sistemas alimentares como um mecanismo de intenção da própria vida. Sem sistemas alimentares viáveis, a gente não mantém a espécie humana”, afirmou Hugo Salomão, senior fellow do ICLEI, que representa governos subnacionais junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). Segundo Hugo Salomão França, os resultados do LUPPA LAB devem integrar uma mobilização global coordenada pelo ICLEI, com foco especial no governo brasileiro, que preside a COP30, e também em instâncias internacionais. O objetivo é garantir que os interesses dos municípios sejam considerados no debate climático global.
Relevância global
O LUPPA é atualmente formado por 60 municípios de 18 estados brasileiros, alcançando diretamente mais de 14 milhões de habitantes. Desde 2021, 597 agentes públicos participaram das atividades do programa. A iniciativa já foi reconhecida em publicações internacionais como o relatório SOFI 2023 (FAO, UNICEF, FIDA e WFP), o documento From Plate to Planet (IPES-Food) e, em 2024, como exemplo de rede inovadora no relatório do Painel de Alto Nível de Especialistas em Segurança Alimentar e Nutricional (HLPE-FSN).
“No LUPPA, buscamos uma metodologia participativa, com troca de experiências entre cidades e uma plataforma que fortaleça a construção de políticas públicas alimentares baseadas nos territórios e com participação da sociedade civil. Sabemos que muitos desafios se repetem, mas cada realidade impõe adaptações específicas. Ao mesmo tempo, uma cidade pode inspirar outra — mesmo que não adote a mesma política, pode se apropriar da solução encontrada e adaptá-la ao seu próprio contexto”, conclui Francine Xavier.
Sobre o LUPPA
O LUPPA é uma plataforma colaborativa e um programa contínuo de aprendizagem, para apoiar e facilitar que cidades promovam políticas alimentares com abordagem sistêmica, de forma intersetorial, coerente e participativa. Idealizado pelo Instituto Comida do Amanhã em correalização com o ICLEI Brasil, conta com o apoio pleno do Instituto Ibirapitanga, do ICS – Instituto Clima e Sociedade, ITAÚSA e da Fundação José Luiz Egydio Setúbal e da Porticus, além do apoio institucional da FAO Brasil – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e da parceria metodológica da Reos Partners Brasil.

Stephane Sena – DePropósito Comunicação de Causas
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